Obs.: Consulte a página Dalton Highway para conhecer as cidades e lugares que visitamos ao longo dessa rodovia

Hyder – nossa estreia no Alaska, essa pequena cidade está praticamente isolada do resto do estado. Os poucos habitantes tem na vizinha Stewart, do lado canadense, sua principal referência para suprimentos. A fronteira entre as duas cidades tem controle apenas para quem sai de Hyder em direção a Stewart.

Logo que chegamos a Hyder, fomos direto ao Fish Creek Wildlife Observation Site, conhecido ponto de observação de ursos pescando salmão. Já era esperado o início da temporada dos salmões subindo o rio para desova, entretanto ainda não havia salmões, portanto não havia ursos. Foi falta de sorte pois no histórico anual de início da temporada, já era esperado haver esse movimento – era dia 21 de julho. Mesmo assim valeu a pena visitar o lugar. Não fomos à passarela pois seria jogar dinheiro fora. Nos contentamos em ver fotos e informações sobre os ursos, cuidados necessários para possíveis encontros com esses animais fascinantes, etc., além de duas peles dos animais expostas ali. Veja nos slides a foto com o histórico de início da temporada de salmões nos últimos anos.

Hyder também é passagem obrigatória para quem vai visitar o Salmon Glacier, que fica no lado canadense. A única rota cruza por 17 km dentro do território norte americano. Fizemos esse passeio e amamos. Na volta paramos um pouco no “centro” de Hyder para observar alguns edifícios que remontam à época da corrida do ouro e depois fomos ao pequeno píer que fica de frente para o Portland Canal e com uma bela paisagem para fiordes. Lá preparamos um lanche antes de voltar a Stewart.

Tok – primeira comunidade com uma certa estrutura desde que cruzamos a Alcan Border, está localizada no entroncamento da Alaska Highway (AK-2) com a AK-4 e a poucos km da Alaska Hwy com a AK-5. Possui alguns comércios básicos como mini mercado, postos de gasolina, conveniências, loja de souvenir, campings e algumas outras opções de hospedagem.

O que mais nos chamou a atenção foi o Centro de Visitantes, com suas exposições sobre vida silvestre, mineração de ouro, construção da Alaska Highway, muitas informações e material sobre todo estado. São várias opções de folhetos, revistas, guias e mapas, a maioria gratuita. É fácil se entusiasmar e sair de lá com uma sacola de material, entretanto isso não é necessário pois em todas as cidades que passamos tivemos acesso a esses recursos. Sugerimos focar em um guia geral para o Alaska e para as duas ou três cidades seguintes, além de um bom mapa.

Espetáculo da Aurora Boreal em Tok

Já era final do dia e decidimos fazer nosso primeiro pernoite no local. Enquanto montávamos nosso acampamento, chegaram dois casais brasileiros com seus motor home – Ênio e Marinês, Marco Antonio e Suzete. A conversa foi animada, com muitas estórias e conversa jogada fora.

Tok foi também a cidade onde passamos nossa última noite no Alaska, já quando fazíamos o caminho de volta. Na nossa despedida fomos presenteados com mais um espetáculo da aurora boreal.

Encontro brasileiro em Tok com Ênio e Marinês, Marco Antonio e Suzete

AK-1 e AK-4 – Tok a Valdez – Saímos de Tok pela manhã e percorremos essas duas rodovias, passando por pequenos povoados. Não vimos grandes animais mas a paisagem compensou. As florestas verdejantes nessa época do ano, rios e glaciares deram a graça do percurso. Pela primeira vez encontramos o oleoduto que transporta petróleo de Prudhoe Bay até Valdez, uma obra grandiosa.

Fizemos várias paradas, com destaque para um mirante próximo à localidade de Copperville, de onde se avista a Wrangell Mountains e seus glaciares, emoldurados por rio, floresta e nuvens. Um convite para pernoite. Seguimos adiante e paramos no Worthington Glacier. Visto da rodovia, essa é uma paisagem clássica do Alaska.

Nossa última parada do dia foi no Trompson Pass, onde pernoitamos. A paisagem é espetacular, com vista panorâmica para vários glaciares e o rio serpenteando o vale. No dia seguinte começamos a descida até Valdez. O vale que vimos no dia anterior aos poucos vai afunilando, dando lugar ao Keystone canyon onde o rio, a rodovia e uma linha férrea compartilham o estreito espaço entre as escarpas. Vale fazer uma parada em alguma das cachoeiras que enfeitam o lugar.

 

Valdez – rodeada por grandes montanhas e fiordes, essa cidade também conhecida por abrigar o terminal do oleoduto Trans-Alaska tem um centrinho movimentado, cheio de pequenos restaurantes e bares, uma marina apinhada de embarcações de todo o tipo e um cais bem organizado, de onde partem vários passeios para glaciares e pesca esportiva. O píer principal é o ponto de maior movimentação no meio da tarde com a chegada das embarcações, onde pescadores amadores e profissionais fazem o burburinho contando da pescaria e posando para fotos ao lado de grandes peixes, as vezes maiores que eles mesmos.

Embora seja pequena, Valdez conta com um comércio variado que parece atender a demanda, obviamente com um custo mais elevado. O centrinho pode ser percorrido a pé em um par de horas, visitando museus e o cais turístico, acostumado a receber grandes navios de cruzeiro. Chegamos em plena celebração do Gold Rush Days, uma festa local que acontece anualmente. Existem várias opções de atividades ao ar livre, de trilhas a navegação em caiaque próximo a icebergs, rafting, etc.

 

Nossa diversão nos dois dias que passamos lá ficou por conta de pescar salmão. Nessa época várias espécies desse peixe se aproximam dos locais onde foram gerados para dar continuidade ao ciclo reprodutivo. Fomos até o Solomon Gulch Hatchery, administrado por uma Organização local com fins de desenvolvimento do setor pesqueiro.

Vale a pena visitar a estrutura onde é possível ver os momentos finais do ciclo reprodutivo do salmão, quando esses sobem por canais artificiais até o local onde foram gerados, já dentro de um edifício preparado para incubação.

 

Alcançando esse local, profissionais extraem o material para fecundar novos alevinos que serão soltos no mar, dando continuidade ao ciclo. Existe uma passarela ao lado dos canais de onde é possível ver a luta dos salmões para subir contra a correnteza e o pequeno espaço disputado por milhares deles.

Também está disponível um totem onde são apresentados filmes educativos sobre todo esse processo. Um detalhe: existem placas alertando de possível presença de ursos que as vezes aparecem para se alimentar desses peixes

Na entrada desses canais vimos uma quantidade imensa de salmões da espécie pink e coho ainda na beira mar, disputando o espaço para entrar nos canais, além de muitas gaivotas e lontras se alimentando dos peixes. A uma curta distância desse local é permitida a pesca amadora, assim improvisamos uma linhada e fomos tentar a sorte.

 

A quantidade de salmões era tamanha que bastava jogar a linhada e logo já tinha um salmão na ponta do anzol. Não somos fãs de pesca, portanto nossa prática é quase equivalente a zero, daí é possível imaginar a fartura. Era pescar e soltar. Três não tiveram a mesma sorte e garantiram um jantar e o almoço do dia seguinte.

Saímos de lá e fomos até o píer que tem uma estrutura pública para qualquer pessoa limpar seu pescado, tudo muito limpo e organizado. Depois de limpos, lá fomos nós para o outro lado da orla e preparamos nosso jantar. Poucas vezes na vida tivemos o prazer de saborear um peixe pescado por nós. Estava muito bom.

Confira no vídeo >>>

 

AK-4 e AK-1 – Valdez-Anchorage-Kenai-Homer – Seguindo viagem, pegamos a AK-4 voltando pelo mesmo caminho que fizemos até Glennallen, entrando novamente na AK-1. Passar pelo mesmo lugar no sentido inverso proporciona novas paisagens e nos deliciamos com isso. Logo que chegamos nessa pequena cidade, paramos para comprar algumas coisas num pequeno mercado e seguimos. Depois de meia hora a paisagem pelo retrovisor parecia um quadro e paramos para contemplar as Wrangell Mountains.

Nosso destino era Anchorage, mas novamente a estrada nos encantou e o ritmo foi lento, de tantas vezes que paramos para contemplar, assim resolvemos acampar no meio do caminho, à beira de um belo rio. A viagem continuou no dia seguinte e paramos em Anchorage apenas para fazer compras e pernoitar. Conhecemos o Sérgio e a Cátia, outro casal brasileiro que viajava por lá naqueles dias. Na manhã seguinte resolvemos seguir viagem e deixamos para conhecer Anchorage na volta da península do Kenai.

 

Mais uma vez vimos muitos glaciares, montanhas e hidroaviões decolando e pousando em lagos dignos de cartão postal. Nesse dia combinamos de acampar com o Renato e a Glória, amigos brasileiros que conhecemos em 2016 na Argentina, quando nós e eles começavam essa aventura pelas Américas. Desde então nossos caminhos já haviam se cruzado 15 vezes na América do sul e Estados Unidos.

 

Nosso camping foi no Kelly Lake, onde ficamos quatro dias curtindo a natureza, fazendo trilha e comendo salmão assado. Nesse tempo ainda conhecemos mais dois casais brasileiros: Wagner e Taty e Tavinho e Letícia. Nos despedimos e seguimos a Kenai.

Kenai – paramos para pernoitar e fazer algumas comprinhas. No dia seguinte fomos conhecer a cidade, começando pelo Centro de Visitantes e Cultural, que tem muitas informações interessantes, história da cidade, a influência russa dos primeiros habitantes não nativos na região e exploração de petróleo nos arredores, além de filmes e animais empalhados.

Fomos conhecer a pequena Igreja Ortodoxa Russa da Sagrada Assunção e a capela de San Nicholas, a poucos metros dali. A cidade também é conhecida como um dos melhores lugares para pesca de salmão de diferentes espécies: sockeye, coho, chinook e pink.

Igreja Ortodoxa Russa da Sagrada Assunção
Capela de San Nicholas

Anchor Point – comunidade ao sul de Kenai onde acampamos numa praia com vista para uma cadeia de montanhas nevadas. Foi uma noite tranquila e agradável, ouvido o barulho do mar.

Horizonte encoberto quando chegamos em Anchor Point
Wild camping em Anchor Point
Amanheceu lindo e a paisagem se mostrou grandiosa - Anchor Point

Homer – ponto de partida para vários passeios de pesca, trekking, tour para ver urso pescando salmão, entre outros, a primeira vista da cidade oferece uma paisagem espetacular do mar e picos nevados ao fundo. Paramos em um mirante na entrada da cidade e depois fomos até o Alaska Island and Ocean Visitor Center, onde assistimos um filme e obtivemos mais informações do local. Na parte de trás do visitor center é possível fazer uma trilha interpretativa. Depois de um passeio rápido pelo centrinho, fomos até Homer Spit, uma estreita faixa de terra que adentra a península de Kachemak.

No local existem barzinhos descolados, restaurantes, lojinhas de souvenir, empresas de turismo e uma marina. Aproveitamos para andar bastante, contemplar a paisagem e relaxar na praia. Enquanto estávamos conhecendo o lugar, encontramos o Cláudio, Gilbert e Luciano, brasileiros que também estavam viajando de carro pelo Alaska. Nos convidaram para jantar com eles, foi um momento muito bacana em nossa passagem por Homer.

 

AK-1 e AK-9 – Homer a Seward – Deixando a cidade em direção a Seward, boa parte do caminho é repetida, mas sempre tem opções diferentes e resolvemos pernoitar de frente para o Kenai Lake, que tem uma paisagem espetacular.

No dia seguinte visitamos o Exit Glacier, numa trilha de nível intermediário com duração aproximada de 2 horas de ida e volta. Valeu muito a pena. O glaciar fica dentro do Kenai Fjords National Park.

Passamos a noite próximo a poucos km do centro de visitantes do Exit Glacier, na rodovia mesmo, bem ao lado do rio.

Seward – chegamos a essa simpática cidade justo no momento em que o trem parou na estação e desembarcaram vários turistas. Curtimos um pouco o vai e vem daqueles que como nós, estavam animados para conhecer o lugar. Visitamos a marina e vimos a partida de vários barcos de passeios turísticos.

Seward oferece muitas opções de lazer, principalmente ao ar livre. Há vários lugares para os amantes de caiaque, trilha e pesca. Também é possível fazer cruzeiro de um dia pela costa sul de Seward para ver desprendimento de glaciares no mar, focas, leões marinhos e baleias. Outra opção interessante é o Alaska Sealife Center.

O centro da cidade é pequeno e pode ser percorrido em uma manhã. Foi o que fizemos, incluindo a orla para a baía, onde relaxamos um pouco curtindo a bela paisagem.

Para quem está viajando com motor home e afins, uma boa opção é o Waterfront Park, um grande RV parking e camping de frente para a baía Resurrection. Estava lotado quando visitamos a cidade.

 

AK-9, AK-1 e Portage Glacier Road – Kenai a Whittier – nosso próximo destino foi Whittier. Exceto a Portage Glacier Road, o caminho era repetido, mas curtimos novamente as belíssimas paisagens, com uma parada em Moose Pass para fazermos nosso almoço. Dali vimos vários hidroaviões decolando e pousando no Trail Lake.

Seguindo caminho, paramos de frente para um pequeno lago já nas proximidades de Whittier, onde tentamos pescar trutas. Conseguimos duas mas eram pequenas e as soltamos. Ali mesmo pernoitamos, com vista para algumas montanhas nevadas.

Pela manhã seguimos em direção a Whittier, com parada no Williwaw Fish Viewing Platform para ver a desova do salmão. Havia salmões de duas espécies e foi possível ver todo o processo de cima da passarela e na margem do rio. Lugar público de fácil acesso e com estacionamento disponível.

Whittier – essa pequena cidade rodeada por altas montanhas tem uma história muito interessante. O lugar foi estratégico para os Estados Unidos construir uma instalação militar, iniciada durante a segunda guerra mundial, além do porto, túnel e estrada de ferro.

Depois da segunda guerra mundial, a base militar ganhou maior importância estratégica devido a sua geografia – além das altas montanhas, a água de sua baía não se congela, como acontece em vários outros locais do Alaska, mantendo assim a possibilidade de navegação durante todo o ano-. Foram construídos dois edifícios, utilizados pelo exército até 1960. Um deles foi abandonado por ter sido usado amianto em sua construção, entretanto o outro, de 14 andares, serve de residência principal para a maioria dos moradores de Whittier. Além dos apartamentos, o edifício abriga comércio, hospital, prefeitura e outros.

Outra curiosidade é o túnel estreito que conecta a cidade às outras cidades por terra. Com cerca de 4km, até o ano 2000 era utilizado como linha férrea, quando foi convertido em uma via mista, permitindo também a passagem de automóveis. Por ser de mão única, a passagem de automóveis é revezada a cada 30 minutos entre os dois sentidos (ida e volta), ficando interditada quando da passagem de trens. O túnel fica fechado das 22:30 às 05:30h para quem vai a Whittier e das 23:00 às 06:00h para quem vem de lá.

A cidade recebe vários cruzeiros e tem também uma rota marítima até Valdez com opção para transporte de automóveis. Oferece várias opções de lazer como caiaque, trilhas, passeios de barco e pesca.

Optamos para fazer uma trilha até o Portage Glacier. Foram 8km de ida e volta até o lago Portage, aos pés do glaciar. A trilha é de nível intermediário e está bem sinalizada. A paisagem é incrível, tanto para Whittier e sua baía quanto para o glaciar. Já às margens do lago, é inevitável ficar hipnotizado pela grandiosidade da natureza, avistar o desprendimento de gelo e pegar pequenos pedaços que chegam ao alcance das mãos. É possível fazer uma navegação no lago e chegar bem perto do glaciar. O acesso fica 3 km antes do túnel para Whittier, no caminho à direita (ver o mapa interativo).

 

AK-1 – Whittier a Anchorage – deixamos Whittier e cruzamos o túnel, indo até Girdwood. No caminho existe um centro de conservação de vida silvestre local. Não o visitamos e nos arrependemos.

Pernoitamos de frente para o Turnagain Arm, um braço de mar que pode ser visto ao longo da AK-1 entre Portage e Anchorage. Periodicamente acontece uma pororoca nesse braço de mar de acordo com a tábua de marés. Os melhores momentos para ver o fenômeno ocorrem nas luas novas e cheias. Consulte mais informações neste site.

Há vários pontos para observação ao longo da rodovia, sendo os principais o Bird Point e Beluga Point. Neste último também é possível avistar belugas e focas e eventualmente orcas. Veja mais detalhes aqui.

Entardecer no Turnagain Arm
Em Anchorage com o Pé-grande e cia

 

Anchorage – maior cidade do Alaska, oferece uma boa infraestrutura e várias opções de passeio, seja caminhadas pela cidade ou montanhas próximas, ciclismo pela coastal trail, voo em hidroavião, passeios de barco para pesca, visita a glaciares, avistamento de baleias, entre outros.

Nossa passagem pela cidade foi relativamente rápida, tanto na ida como na volta da península de Kenai. Demos uma volta no Kincaid Park, no centro da cidade e aproveitamos para ressuprir o estoque de alimentos antes de seguir para o norte em direção a Talkeetna.

 

AK-1, Fishhook Road, Hatcher Pass Road e Willow Fishhook Road – Anchorage a Talkeetna – essa rota cruza bosques e rios a partir da Fishhook Rd montanha acima. Escolhemos essa rota para desviar um pouco da principal – AK-3 e conhecer o Hatcher Pass, já nas montanhas de Talkeetna. Valeu a pena pois a rota tem um cenário espetacular. A estrada é asfaltada até o ponto culminante da rota e a descida em direção a Talkeetna é de cascalho até Willow, já na AK-3. Um local para ser visitado é Independence Mine State Historical Park que fica ali pertinho, dentro de um antigo campo de mineração de ouro. Não entramos pois já estava fechado.

Do ponto culminante a estrada apresenta um cenário que nos fez lembrar a paisagem andina, com a estrada serpenteando as grandes montanhas, além do belo Summit Lake. Estávamos animados para acampar em algum ponto da estrada, às margens do rio, porém havíamos deixado em aberto a possibilidade de encontrar com o Renato e a Glória, amigos do “A Casa Nômade“.

No dia anterior houve um incêndio de grandes proporções na região ao sul de Talkeetna e estávamos preocupados pois o tráfego na AK-3 foi interrompido por questões de segurança e não conseguíamos notícias dos nossos amigos por falta de sinal de celular. Resolvemos seguir até o entroncamento com a AK-3 já em Willow, onde os encontramos aguardando a liberação da estrada. Tivemos que pernoitar ali e ficamos de prontidão para cruzar a região do incêndio tão logo fosse permitido pelas autoridades. Às 6h os agentes nos despertaram para avisar da liberação de um comboio com batedores e lá fomos nós. A paisagem em meio a muita fumaça e fuligem era triste. Casas, carros e maquinários completamente queimados, além do estrago florestal. Felizmente não houve vítimas.

 

Fumaça de um grande incêncio florestal
Cruzando a área do incêndio em comboio
Destruição causada pelo incêndio

Talkeetna – o pequeno povoado é uma parada imperdível na viagem ao Alaska. Em menos de duas horas é possível conhecer todo o centrinho que parece ter saído da imaginação dos viajantes sobre a vida nas pequenas cidades do estado. Com várias cabanas construídas com toras e alguns pequenos edifícios que lembram a época da corrida do ouro, a Talkeetna abriga ateliês, pequenos bares, restaurantes, cervejaria, campings, pequenos hotéis, mercadinho e mantém um ambiente que parece materializar o que antes estava apenas na imaginação.

Já havia lido um livro que citava o lugar como ponto de partida para destemidos alpinistas que exploram as montanhas da região, em especial o Monte Denali, o mais alto da América do norte com 6.190 msnm. O incêndio do dia anterior trouxe muita fumaça e por sorte, ao chegarmos em Talkeetna o Denali se despiu de qualquer poluição e nuvens. Sem sabermos, aquele seria o único dia em que teríamos a oportunidade para admirá-lo e tirar muitas fotos.

Fizemos um passeio a pé até a margem do rio Susitna, onde um animado grupo de turistas esperava para embarcar num passeio de barco. De novo a cadeia montanhosa com o Denali despontava no horizonte. Dali fomos até o Walter Harper Talkeetna Ranger Station, um serviço do sistema de parques nacionais que controla o fluxo de alpinistas ao Denali e outras montanhas da região. Conta com uma exposição com fotos, utensílios e equipamentos de várias épocas usados nas expedições às montanhas, além de mapas e material informativo.

A cidade oferece opções de voos panorâmicos pela cadeia montanhosa em pequenos aviões, com opção de pouso sobre o glaciar, passeios de barco pelos rios da região, passeios para pesca, passeio a cavalo, etc.

 

Visitamos também o ateliê da Dora, brasileira radicada há anos em Talkeetna e especializada em fotografar a aurora boreal. Simpática e atenciosa, nos mostrou com orgulho o resultado de anos de experiência no registro desse fenômeno natural.

Suas fotografias já foram requisitadas para várias publicações e exposições em órgãos públicos e particulares. Dora também oferece workshops, além de comercializar seu trabalho, emoldurados com sofisticação e bom gosto ou materializado em um pequeno souvenir. Para conhecer melhor, visite https://www.auroradora.com/.

Dora, a brasileira especializada nas fotos da Aurora Boreal
Dora, a brasileira especializada nas fotos da Aurora Boreal

AK-3 – Talkeetna a Fairbanks – deixamos Talkeetna e pernoitamos já na AK-3, às margens do rio Susitna. A fumaça do incêndio florestal ainda não dissipara e estava ruim para respirar. No dia seguinte seguimos ao Denali, parando em vários mirantes na esperança de ver o Monte Denali e as montanhas. Em vão. O que vimos mesmo foi um cisne nadando tranquilamente por um lago à beira da estrada.

Cisne numa lagoa às margens da AK-3

Denali National Park and Preserve – um dos parques nacionais que mais queríamos conhecer. O centro de visitantes é muito interessante, cheio de informações, mapas e exposições de animais empalhados, utensílios, filmes, etc. O camping logo na entrada do parque oferece uma conveniência, sanitários e banho quente. Existem muitas opções de lazer e aventura, de uma simples caminhada até passeios de avião ou helicóptero até as montanhas.

Pegamos o ônibus do parque até Savage River Creek Station, num trajeto de 21 km passando por belas paisagens. O ônibus é gratuito e parte do centro de visitantes. Existem algumas paradas para embarque e desembarque para os visitantes que desejam conhecer alguma parte específica, fazer trilhas, etc. Às vezes o ônibus para no meio do nada quando motorista ou passageiros avistam algum animal, ou então quando algum carro está parado no caminho. Os passageiros se agitam para localizar o bicho e se preparam para fazer uma foto.

Chegando ao destino final, descemos para curtir a bela paisagem e sua natureza exuberante, o rio cortando a planície com as montanhas ao fundo. Também é possível fazer uma trilha a partir dali. A estrada continua parque adentro, porém é necessário pegar o ônibus específico no centro de visitantes. Esse passeio é pago e possibilita conhecer o parque mais a fundo.

 

No nosso trajeto vimos alces e caribus se alimentando, sempre atentos e as vezes ariscos. Pareciam acostumados com a presença humana e pudemos tirar algumas fotos a uma curta distância. Não vimos ursos nesse passeio.

 

No dia seguinte resolvemos aproveitar o tempo instável e repetimos o mesmo passeio, com parada na volta no canil de Sled Dogs. Lá assistimos uma apresentação com os cães puxando um trenó com rodas, já que não era época de neve. Pudemos interagir com os cães e tirar muitas fotos.

Magic Bus – para quem assistiu ao filme ou leu o livro Na Natureza Selvagem (Into the Wild), certamente se lembra de Christopher McCandless e do Magic Bus. Chegar até o famoso ônibus abandonado na Stampede Trail é algo um pouco complicado e pode se tornar uma aventura perigosa. Não nego que gostaria de ir até lá, mas nos contentamos em visitar uma réplica em Healy (veja localização no mapa interativo). O ônibus original também ficava em Healy a cerca de 46 de distância, mas recentemente foi removido do local.

Dentro da réplica do Magic Bus
Foto clássica na réplica do Magic Bus

Fairbanks – segunda maior cidade do Alaska, oferece quase todas as comodidades de uma grande cidade. Ficamos muito contentes ao chegar pois ali começaria uma parte mais desafiadora da viagem pelo estado, que era percorrer a Dalton Highway até Deadhorse. Também se aproximava o início da temporada da aurora boreal e isso nos deixou muito entusiasmados.

A cidade oferece muitas opções de passeio e lazer em todas as estações do ano, mas nosso interesse maior era ver a aurora boreal, mesmo que estivéssemos perto das luzes da cidade. Pegamos algumas dicas de lugar e a cinco km do centro, fomos com o Renato e a Glória tentar a sorte. Pudemos ver algo sutil e diferente no céu, mas só alguns dias depois pudemos ter a certeza que já era a aurora numa intensidade bem pequena. Era o começo de uma experiência inesquecível.

Aproveitamos os primeiros dias na cidade para por algumas coisas em ordem na nossa casinha rodante, troquei o cabo de freio de mão que havia estourado, substituí a bateria estacionária da casa e também descansamos um pouco da estrada. Foram dias tranquilos, período em que mais encontramos brasileiros no Alaska. Todos estavam muito felizes por chegar até lá, e claro, cada encontro foi uma alegria. Os pontos de encontro foram sempre no Walmart, compartilhando o espaço com viajantes de outros países. Alguns eram amigos que já havíamos encontrado em algum lugar da América: Renato e Glória, Walfredo e Luciene Kumm, e outros que só conhecíamos por whatsapp ou internet: Sérgio e Silvia, Marcelo e Ana, Sérgio, Giselle, Rafael e Sofia.

Encontro brasileiro em Fairbanks com Sérgio, Gisele, Rafael e Sofia, Walfredo e Luciene Kumm
Carros brasileiros "dominando" em Fairbanks
Um pouco de mecânica: mais um aprendizado na estrada
Encontro brasileiro em Fairbanks, com Marcelo e Ana, Sérgio e Silvia e Luciene Kumm
Mini encontro Land Rover Brasil em Fairbanks

Fairbanks foi um lugar que nos marcou muito pela receptividade de seus moradores. Aliás, sentimos isso em todo o Alaska. Pensamos que o fator geográfico influencia – por ser um lugar mais isolado e por vezes inóspito por exemplo. Na realidade, a essência das pessoas em sua maioria é boa e essa percepção ficou mais evidente e nos chamou a atenção principalmente nessa cidade. Conhecemos muitas pessoas que vieram até nós para conhecer sobre nossa viagem, por curiosidade também, mas quase todos nos perguntavam se estávamos bem, se precisávamos de algo.

Um dia conhecemos o Sr. Ben, ficamos conversando um bom tempo e antes de se despedir ele disse que éramos bem vindos ao Alaska, e como forma de demonstração, nos convidou para voar com ele em seu hidroavião. Claro que aceitamos e tivemos uma experiência incrível. Outro casal nos convidou para sua casa; uma senhora que viu nossa confraternização de brasileiros num café da manhã, apareceu do nada, quis saber das nossas aventuras e disse o mesmo, que éramos bem vindos e que queria participar da nossa festa. Foi tirando várias sacolas de compra de seu carro, disse que era para seguirmos comemorando e foi embora. Depois de tanto tempo viajando, todos nós já tínhamos vivido experiências como essa em outros lugares e esse foi mais um momento nos faz acreditar na essência do ser humano.

Chena Hot Springs Road – Fairbanks-Chena Hot Springs-Fairbanks – a 100 km de Fairbanks, decidimos tirar um dia relaxante nas termas. Havíamos combinado com o Renato e a Glória de buscarmos um lugar para acampar no caminho e mais uma vez esperar a aurora boreal. Encontramos um lugar bonito ao lado da estrada, bem de frente para o rio Chena, preparamos o jantar e logo que escureceu totalmente, tivemos na prática nossa primeira experiência com a aurora boreal. Ainda em começo de temporada, pudemos ver a dança das luzes no céu, as vezes devagar, as vezes depressa. Em menos de uma hora o show já havia acabado, mas o coração transbordava de alegria por viver algo tão esperado por anos.

Nossa primeria Aurora Boreal
Aurora Boreal a caminho de Chena Hot Springs
Na segunda noite, mesmo com nuvens ela apareceu

No dia seguinte fomos às termas e passamos um dia relaxante. Há opção de piscinas e jacuzzis em área coberta e descoberta. Na piscina externa tem um jato de água para hidromassagem. Ficamos na piscina até anoitecer e resolvemos pernoitar lá mesmo no estacionamento. Mais uma vez a aurora boreal apareceu, um pouco tímida, mas deu seu show. No dia seguinte voltamos a Fairbanks e terminamos os preparativos para fazer a Dalton Highway.

Dia de relax nas termas

Free camping em Chena Hot Springs

Richardson Highway, Alaska Highway (AK-2) e AK-5 – Fairbanks-North Pole-Delta Junction-Tok-Chicken-Little Gold (Fronteira com o Canadá):

North Pole – cidade onde tem a Casa do Papai Noel, um ponto turístico com lojinha de souvenir, criação de renas, e claro, o bom velhinho em pessoa acompanhado de uma senhora.

Na casa do Papai Noel em North Pole
Na casa do Papai Noel em North Pole
Criação de renas
Criação de renas
Trenó do Papai Noel em North Pole
Trenó do Papai Noel em North Pole

Delta Junction – pequena cidade que marca o final da Alaska Highway, na milha 1.422. Paramos para conhecer o Centro de Visitantes, mas já estava fechado. Tiramos foto no monumento que marca o final dessa icônica estrada. Na parte posterior à entrada estão expostos alguns artefatos, máquinas e veículos remanescentes da época da construção da estrada. De volta a Alaska Highway, seguimos até Tok, conhecendo outra parte da estrada que não tínhamos percorrido ainda. Quando chegamos a Tok já estava escuro e frio. Preparamos nosso jantar e para nossa surpresa, a aurora boreal deu o ar da graça e novamente nos deleitamos com o show. Abastecemos no dia seguinte e seguimos para Chicken, agora no último trecho da Alaska Hwy, entrando pela AK-5.

Caminhão usado na construção da Alaska Highway
Caminhão usado na construção da Alaska Highway
Alaska Highway no caminho de volta a Tok
Alaska Highway no caminho de volta a Tok
AK-5 em direção a Chicken
AK-5 em direção a Chicken
Final da Alaska Highway
Final da Alaska Highway

Chicken – pequeno povoado remanescente da época da corrida do ouro, está listada como lugar histórico nacional. Conta com alguns serviços básicos como pequena bomba de combustíveis, campings, cafés, restaurante, lojinhas de souvenir e posto dos correios. Há um farto exemplar de maquinários antigos usados na exploração do ouro e uma grande draga em exposição. Na quadra ao lado fica um conjunto de pequenos edifícios remanescentes da época da corrida do ouro, onde funcionam lojinhas de souvenir e café. No centro do povoado fica uma escultura do frango e cruzando a estrada fica o pequeno posto do correio. Em frente fica uma casa construída com toras de madeira onde funcionava o antigo correio. Aproveitamos o tempo agradável e preparamos nosso almoço numa área de lazer coberta e com mesas, andamos pelo povoado visitando cada cantinho e logo seguimos viagem. A estradinha de terra em direção à fronteira com o Canadá foi nosso último trecho percorrido no Alaska, um lugar que está em nossos corações e que queremos voltar.