Chegar a Nasca após dois meses viajando pelos Andes foi uma alegria. Desfrutamos muito do tempo em que estivemos sempre acima dos 3.000m, em alguns pontos a mais de 5.000m de altitude, mas ao aproximarmos da costa do Pacífico e do calor nos trouxe novas energias.
Fizemos o trajeto entre o Vale Sagrado e Nasca em dois dias e meio, assim pudemos curtir a paisagem e a estrada que serpenteia intermináveis vales e montanhas. Dormimos em pequenas cidades e até numa praça de pedágio, lugar onde fez mais frio até então: -3,5°c, a 4.300m de altitude. Mais uma vez nossa provisão de água ficou congelada. Como já estávamos aclimatados com a altitude, nosso saco de dormir deu conta do recado e passamos uma noite tranquila.
A paisagem ao chegar em Nasca muda drasticamente em relação aos Andes. Muita aridez, menos montanhas, menos água. Nesse último quesito tivemos a primeira surpresa com relação a civilização Nasca, que habitou a região entre os anos 400 a.C e 300 d.C.
Nos impressionamos com a engenharia hidráulica que os Nascas desenvolveram para captar água do subsolo e distribuí-la por canais subterrâneos a diferentes partes da região.
Os chamados aquedutos impressionam também por sua beleza arquitetônica. São canais subterrâneos e em forma sinuosa para diminuir a velocidade da água, evitando assim algum processo erosivo. Ao longo dos canais existem os “ojos” ou “respiradores” que servem como pontos de inspeção. Tem formas espirais e escalonadas e foram construídos com pedras de canto rodado, planas e com o uso de troncos do huarango (algarrobo) que resistem até hoje. Os aquedutos tem profundidades entre 3 e 12 metros estão próximos um do outro.
Visitamos o Aqueduto de Cantalloc, bem próximo ao centro da cidade. Existem cerca de 50 aquedutos conhecidos onde se pode apreciar o conjunto da obra. Alguns inclusive são utilizados até hoje. Conhecemos nesse mesmo passeio Los Paredones (centro administrativo Incaico), Geóglifos Las Agujas de Cantalloc mas não tivemos tempo de visitar o Telar de Cantalloc, que estava incluído no mesmo ticket. Para conhecer esses quatro lugares com tranquilidade, recomendamos reservar pelo menos três horas, considerando o horário de visitas que se encerra às 17h e que nessa época (maio) escurece por volta das 18 horas.
Nos arredores da cidade conhecemos as ruínas de Cauhachi. Com arquitetura monumental para a época, era o centro cerimonial da cultura Nasca. São cerca de 36 pirâmides, algumas ainda quase que totalmente soterradas. A principal foi restaurada e é possível apreciar algumas partes de outras pirâmides em seu estado original. No caminho entre a cidade e Cauhachi existem outros sítios arqueológicos e cemitérios daquela época. Na volta curtimos um belo pôr do sol.
Na parte da noite uma boa opção é assistir a apresentação dos estudos sobre as misteriosas linhas e figuras deixadas no deserto pela civilização Nasca. Projetada no teto do planetário, as imagens mostram as várias hipóteses pelas quais as linhas foram feitas. Muito interessante para entender algumas coisas antes sobrevoar o deserto ou visitar os mirantes.
Antes da apresentação os visitantes tem a oportunidade de observar o céu através de telescópio. Na noite que estivemos lá pudemos ver apenas a Lua e Júpiter pois o céu estava parcialmente encoberto.
Saímos até a rodovia Panamericana em direção ao sul e chegamos ao Cemitério de Chauchilla. Este sítio arqueológico pertence ao período pré incaico e algumas fontes apontam que pertenceu a cultura Huari e outras associam à cultura Nasca. Ali existem com múmias preservadas graças ao clima árido do deserto. Em algumas é possível ver ainda cabelos e partes da pele. Nas tumbas também é possível ver fragmentos de cerâmica e tecidos da época. Sem dúvida é uma experiência imperdível, até porque Chauchilla é a única necrópole no Peru onde se pode ver as múmias em seu estado local original, embora tenham sofrido saques de seus tesouros arqueológicos ao longo dos anos.
Obviamente o passeio principal na cidade é conhecer as famosas e misteriosas Linhas de Nasca, que foram declaradas Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 1994.
Existem algumas opções para conhecer as Linhas, sendo que a principal é fazer um sobrevoo, assim é possível ver quase todas as figuras (são 12 as mais conhecidas), além de intermináveis linhas que cortam o deserto. Outra opção é visitar um mirante metálico na Rodovia Panamericana, a 25 km do centro da cidade. Desse mirante é possível avistar as figuras da árvore, mãos e lagarto, além de outras linhas retas. Ali próximo também existe um mirante natural de onde se avista diversas linhas traçadas no deserto.
Tivemos a oportunidade de fazer o sobrevoo, que durou cerca de 30 minutos. Éramos quatro passageiros, além do piloto e copiloto. Estava um lindo dia de sol, o que permitiu avistar quase todas as figuras com clareza. Do alto algumas figuras parecem pequenas mas impressionam por sua simetria, formas e representações feitas com desenhos rasos no chão por meio da remoção de pedras e deixando à mostra o chão esbranquiçado por baixo.
As figuras representam animais, figuras humanas, formas geométricas, aves e peixes. Existem diversas teorias do que teria motivado a construção dessas linhas. As principais apontam motivação religiosa, rituais invocando chegada de água, sistemas de irrigação, calendários astronômicos e fertilidade.
As figuras mais emblemáticas são a do colibri, macaco, aranha e do astronauta – esse é o único desenhado em alto relevo, na encosta de uma montanha.
Ao deixarmos a cidade de Nasca em direção ao norte, paramos no mirante metálico, o que nos permitiu ver mais de perto as intrigantes figuras.
É sempre uma alegria quando encontramos pessoas que estão vivendo a experiência de uma expedição. Conhecemos a Família Viajera (https://www.facebook.com/losvalinotti/) na nossa visita ao Planetário. Frederico e Soledad estão viajando desde Córdoba, Argentina há três meses com um casalzinho de filhos e tem uma estória encantadora de vida e o México como destino principal.